segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Em alto mar

Na área comum de um elegante cruzeiro marítimo, uma jovem olhava para o mar. Sozinha, ela permaneceu imóvel durante muito tempo, a se misturar com a paisagem, como qualquer outro objeto do navio.

Ela se vestia de maneira simples e recatada. O vestido branco de cortes retos tinha um respeitoso decote, que não passava da altura de suas clavículas. Magra e, pelo que pude observar, mais alta do que a média das mulheres, ela poderia passar facilmente por uma modelo, não fossem seu rosto e nariz pequenos e arredondados, que não costumam agradar o gosto das passarelas. Os cabelos cacheados foram cuidadosamente presos em um coque impecável. No entanto, como que confinados pelos grampos, os fios, que aparentavam terem sobrevivido a anos de violentos tratamentos químicos para controlar volume e maciez, tentavam escapar sobre sua testa, onde podiam ser relativamente livres, associando-se em organizações rebeldes de cachos e ondas.

Seus olhos eram a expressão máxima de seu estado de espírito. Negros e bem redondos, eles estavam semicerrados, não a mirar o movimento das ondas do mar ou as cores do sol que se punha no horizonte. Pareciam estar à deriva, a léguas de distância de onde se encontrava, a enfrentar suas próprias tempestades internas.

Para completar o visual, o colar de pérolas, mais ou menos à altura de seu decote, era visivelmente falso. Ele fora pintado com alguma tinta de coloração brilhosa e que já começava a descascar, revelando aos poucos o que ela se esforçara tanto para esconder.

Entretanto, ela mantinha o adereço no pescoço em uma das áreas de maior exposição do navio. Mesmo com suas pedras desgastadas, o objeto não deixava que os passageiros do navio esquecessem que, assim como eles, ela também prezava pela elegância.

Um comentário:

Livia Hay disse...

Olha só, mais um da série!
Voce acabou de entrar p/ a lista...mas poxa, isso é so mais uma forma de post forjado!!!
hahahah
bjs