terça-feira, 28 de julho de 2009

Fôlego

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Tem dias que, sem perceber, começo a contar a minha respiração. A última vez foi na manhã da última quarta-feira, quando ia para a reunião de negócios mais importante de toda a minha (curta) carreira profissional. O dia estava ensolarado mesmo com a temperatura baixa, típica da estação, que deixava a sensação de dormência no corpo. O desconforto era agravado pela escolha da minha indumentária: ao permitir que o instinto de preservação me vestisse naquela manhã, optei pela roupa que causaria a melhor impressão nos outros e não na que me traria mais conforto. Resultado: braços congelados e dedos dos pés esmagados.

Os dez minutos de caminhada do metrô até o prédio de 20 e tantos andares duraram 3 segundos. Em frente ao local, olhei o prédio de baixo para cima, assustada com sua imponência e a das pessoas que trabalhavam nos últimos andares: acima de todos, literalmente. Voltando os olhos para o chão vi os funcionários que chegavam apressados, cada um com seu lap top cuidadosamente colocado na mochila, conscientes de seus lugares no mundo, suas obrigações, sua importância e potencial. Levantei o olhar novamente e contei as janelas até chegar naquelas que correspondiam ao andar para o qual me dirigia. E então parei de respirar e não pensei em nada. Não sei quanto tempo durou isso porque, se não pensava em nada, certamente não podia pensar no tempo. Uma buzina de caminhão me tirou do meu transe e eu acordei para o fato de que começava a me atrasar para a reunião.

Contar a respiração pode ser torturante. A cada inspiração você adiciona um número a mais à conta que, por não ter ritmo predeterminado, acaba ficando descompassada e você se pega respirando de mais ou respirando de menos. A merda é que depois que se começa, parar é quase impossível. Durante a apresentação, enquanto falava de lucros e projeções, a minha conta chegou a números maiores do que os das estimativas de ganho, o que acabou por abrir ainda mais as portas do nervosismo. Mas perder o fôlego tem seu lado positivo. À custa de muita aflição e angústia, você se certifica de que, de fato, ainda está vivo.