sexta-feira, 22 de maio de 2009

No alarms and no surprises



- Um dia você ficará cego, como eu. Estará sentado num lugar qualquer, pequeno ponto perdido no nada, para sempre, no escuro, como eu. (Pausa)

Um dia você dirá, estou cansado, vou me sentar, e sentará. Então você dirá, tenho fome, vou me levantar e conseguir o que comer. Mas você não levantará. E você dirá, fiz mal em sentar, mas já que sentei, ficarei sentado mais um pouco, depois levanto e busco o que comer. (Pausa)

Ficará um tempo olhando a parede, então você dirá, vou fechar os olhos, cochilar talvez, depois vou me sentir melhor, e você os fechará. E quando reabrir os olhos, não haverá mais parede. (Pausa)

Estará rodeado pelo vazio do infinito, nem todos os mortos de todos os tempos, ainda que ressuscitassem, o preencheriam, e então você será como um pedregulho perdido na estepe. (Pausa)

Sim, um dia você saberá como é, será como eu, só que não terá ninguém, porque você não terá se apiedado de ninguém e não haverá mais ninguém de quem ter pena.


Hamm em “Fim de Partida”, de Samuel Beckett

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Atendendo a pedidos

Caros,

Ficcionalidades de cara nova! Após ouvir reclamações de cada ser humano que entrava no meu blog acerca da coloração do fundo e da tipografia, resolvi mudar para o branquinho básico.

Apesar de continuar sendo partidária da opinião de que é muito mais fácil ler em fundo preto com letras brancas, resolvi escutar os conselhos de uma certa professora minha: "Terceiro anoo!" "Nós, jornalistas, escrevemos para os outros, não para nós mesmos". Como eu gosto mesmo é de escrever pra mim mesma e disso não abrirei mão, resolvi fazer ao menos essa concessão a vocês.


Att.
Laís Clemente

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A genialidade das ideias

Gente pequena tem umas ideias geniais de vez em quando. E como tem tempo em excesso, fica fazendo planos de executá-la. Mas aí chega a hora de dormir, as ideias geniais vão para o subconsciente e nunca são executadas.


De vez em quando a gente lembra dessas ideias e se arrepende de nunca tê-las feito. E daí faz planos de execução... Mas inevitavelmente vêm os afazeres e entre um afazer e outro deixamos a ideia de lado, que é novamente esquecida.


Aí a gente cresce, e eventualmente acaba lembrando da tal da ideia. Mas a essa altura ela já não tem mais graça. Gente grande não sabe apreciar as ideias verdadeiramente geniais.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Paulistanices: a frieza aconchegante

Já faz uma semana e eu tinha esquecido de registrar isso. Foi na terça feira passada, quando eu andava pela Avenida Paulista, por volta da 13h30. A fome me fazia andar depressa, mas o som de uma flauta desacelerou meus passos. Ao olhar para a fonte do som vi um grupo mexicanos trajando roupas indígenas (parecidas com aquelas do desenho do Pica Pau, sabe?).

Como era hora de almoço, um grupo de executivos desocupados parou para olhar a apresentação dos rapazes. Mesmo que eu abomine o som dessas flautas de madeira - invenções do demônio, ao lado de gaitas de fole, flautas doces e xilofones -, abri um sorriso e já ia parar para dar uma simbólica contribuição - uma forma de gratidão pelo esforço daqueles estrangeiros em tornarem a fria e sisuda São Paulo um pouco mais alegre. Mas foi aí que eu reparei. Todos os executivos, sem exceção, mantinham uma distância de, ao menos, 5 metros de distância dos hermanos. Seria medo da gripe suína?

Se sim, chegar perto da caixinha seria correr o risco de um deles espirrar na minha cara antes que eu conseguisse ficar ereta e virar vítima da doença-com-nome-de-bicho do momento. Se não, agentes de saúde poderiam me levar e me por em quarentena mesmo assim, e então eu entraria para a lista das dezenas de casos suspeitos da gripe dos porcos. É, se bem que para isso eu deveria viver em um filme americano bem clichê e não no Brasil, onde as pessoas ainda morrem de dengue e contraem malária a rodo e ninguém fica surpreso com isso. De qualquer modo, lá fiquei eu, parada por uns cinco segundos com a mão no bolso, sem saber o que fazer. Pelo sim ou pelo não, desfiz o sorriso do rosto e apertei o passo.

Sei que deve estar meio tarde para conselhos e alertas, mas se vocês, (poucos) leitores, ouvirem por aí boatos de executivos contraindo a doença misteriosamente, não digam que eu não avisei...