segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O dia depois do dia

Eu não durmo mais. Toda noite, ao fechar os olhos, acordo em um mundo bem parecido com este, só que completamente aleatório.

Então levanto da minha cama, abro a porta de casa e saio. Está claro. Encontro pessoas e converso com o jornaleiro em sua banca em forma de jacaré. Ele sorri e eu sorrio de volta, mas não me atrevo a entrar em seu estabelecimento.

Sigo meu caminho e vejo alguns carros que voam. Pego um deles e vou em direção a um parque. Acontece que eu esqueci que carros voadores são mais lentos do que os não voadores. Puxo conversa com o motorista, mas o romeno mal encarado não gosta do meu papo sobre algodões doces e pássaros venenosos e me empurra para fora.

Eu caio, caio e caio. Algumas das coisas do nosso mundo também existem nesse mundo, como o meu medo de altura. Mas o chão é bem macio e eu caio sentada, com todos os ossos nos devidos lugares. Não é que o romeno me jogou no parque que eu queria?

O lugar é bonito, mas tem muitas tartarugas. Eu não sei se você já as viu, mas tartarugas do dia depois do dia não são muito agradáveis. Vivem reclamando. O bom é que fugir delas é bem fácil. Logo escurece e uma moça de testa grande me coloca em um teleférico. Ele anda muito, muito rápido e aí o medo vem de novo. Sou jogada em um elevador. Olhando bem, não é que é o elevador lá de casa? Aperto o botão do meu andar, mas ele vai parar no 27. Aperto o meu andar de novo e vou parar no andar 155. E o raio da porta não abre. Entro em pânico e aperto o térreo. Só que o elevador despenca. Meu estômago vai parar na garganta e eu desmaio. Abro os olhos, levanto da minha cama, abro a porta e saio. Está claro.