Eu não durmo mais. Toda noite, ao fechar os olhos, acordo em um mundo bem parecido com este, só que completamente aleatório.
Então levanto da minha cama, abro a porta de casa e saio. Está claro. Encontro pessoas e converso com o jornaleiro em sua banca em forma de jacaré. Ele sorri e eu sorrio de volta, mas não me atrevo a entrar em seu estabelecimento.
Sigo meu caminho e vejo alguns carros que voam. Pego um deles e vou em direção a um parque. Acontece que eu esqueci que carros voadores são mais lentos do que os não voadores. Puxo conversa com o motorista, mas o romeno mal encarado não gosta do meu papo sobre algodões doces e pássaros venenosos e me empurra para fora.
Eu caio, caio e caio. Algumas das coisas do nosso mundo também existem nesse mundo, como o meu medo de altura. Mas o chão é bem macio e eu caio sentada, com todos os ossos nos devidos lugares. Não é que o romeno me jogou no parque que eu queria?
O lugar é bonito, mas tem muitas tartarugas. Eu não sei se você já as viu, mas tartarugas do dia depois do dia não são muito agradáveis. Vivem reclamando. O bom é que fugir delas é bem fácil. Logo escurece e uma moça de testa grande me coloca em um teleférico. Ele anda muito, muito rápido e aí o medo vem de novo. Sou jogada em um elevador. Olhando bem, não é que é o elevador lá de casa? Aperto o botão do meu andar, mas ele vai parar no 27. Aperto o meu andar de novo e vou parar no andar 155. E o raio da porta não abre. Entro em pânico e aperto o térreo. Só que o elevador despenca. Meu estômago vai parar na garganta e eu desmaio. Abro os olhos, levanto da minha cama, abro a porta e saio. Está claro.