terça-feira, 28 de abril de 2009

Sobre narcóticos e vida universitária

And the people in the houses all went to the university

Where they were put in boxes, little boxes, all the same.

And there’s doctors and there’s lawyers, and there’s business executives

And they’re all made out of ticky tacky and they all look just the same.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Old Age

Quando ela completou 22 anos, estava prestes a se tornar uma adulta. Assim como quando fez 20, 18 e como estaria quando fizesse 35.


À sua volta parentes, amigos e conhecidos falavam sobre o futuro brilhante que ela ainda teria pela frente. Tudo muito racional. Ainda assim, inconcebível.





terça-feira, 14 de abril de 2009

Incertezas

- O que você faz na vida?

- Sou estivador.

- Não, falando sério.

- Estou falando sério.

- Não estou falando desse tipo de coisa. Qual é o seu verdadeiro interesse?

- Querida, se eu tivesse a resposta para essa pergunta, aposto que em meia hora já estaríamos os dois morrendo de tédio.



Richard Yates, em Revolutionary Road

Já deu, né?

Caros Srs. editores de cadernos de cultura,

Todo mundo sabe que a indústria fonográfica está em crise (azar o seu, antes ela do que eu).

Todo mundo sabe que até o Papa deve baixar músicas pela internet (i)legalmente.

Todo mundo sabe que a maior parte dos CDs custa os olhos, narizes e bocas da cara.

Todo mundo sabe que vinil é status e (diz que) sabe que a qualidade sonora é superior.

Eu sei que tão anunciando e garantindo que o mundo vai se acabar. Mas vamos botar os pingos nos "is" (já que nos "us" não pode mais): essa crise é da indústria fonográfica, ok?

Se Obama salvar o mundo tal qual um super-herói Marvel ou se os donos das gravadoras derem cabo a suas vidas pulando das janelas de seus grandes escritórios, músicos ainda farão música e ouvintes ainda a escutarão e consumirão de alguma forma.

Agora, peloamordosdeuses, vamos mudar de assunto?

Sem mais,
Laís Clemente

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Festa no quintal

Chegam os chefes de família e suas rencas de filhos. A maior parte você nunca viu na vida, e mesmo assim é forçado a agir como se conhecesse. Afinal, “vocês brincavam juntos o tempo todo”!

Enquanto as crianças, se aproveitando da guarda baixa de seus pais, enlouquecem os donos da casa, os “adultos” fazem a tradicional rodada de perguntas indiscretas sobre sua vida pessoal. Você responde da forma mais evasiva que conseguir. Pessoas comentam o quanto você cresceu e acrescentam que “é melhor tomar cuidado, hein paizão? Essa menina ainda vai dar trabalho!”, com um sorriso perturbadoramente alegre.

Hora da comida é a parte mais legal. As humilhações cessam e você só tem que se preocupar em se aventurar no exotismo culinário de seus antepassados. Meio nojento, mas bem divertido. Aos poucos você acaba pegando o jeito e, explorando as iguarias a que todos estão acostumados, acaba descobrindo aquelas que não te farão vomitar. Cheira. Pergunta do que é feito. Se tiver textura de gelatina, mas não for sobremesa, não come. Do mocotó dá pra comer os legumes. Da feijoada, além dos grãozinhos, a carne seca e lingüiça (do tipo com trema) também são comíveis. Um pouquinho de farofa e couve do lado, que além de ornarem o prato dão a ilusão de que você também come alimentos verdes.

Música: Violão, sopros, contrabaixo e, em ocasiões especiais, até uma bateria. Na garagem, casais de idade avançada brincam de Dancing Queen enquanto todo o resto conversa no canto, quase como no bailinho da escola.

Churrasco combina com cerveja. Para o churrasco o carvão sempre falta. Para a cerveja sempre falta gelo. Pobre coitado que bebeu menos sai para reforçar o estoque. Mais carne? Não, não precisa, o que tem dá. Mais cerveja? Sim, esta sempre falta.

Fim de noite. Restos de sobremesa do almoço para repor o nível de açúcar e assim restaurar o tanto de senso de direção necessário para se manter em pé.

Nesse estado, todos fazem muitos planos e prometem jamais perder o contato. Entram em seus carros e retornam são e salvos a suas casas. Desta vez como todas as anteriores e as seguintes. E olha que ainda nem existia a lei seca.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Leitura dinâmica: Módulo I – Pequenos jornais religiosos

Sou uma ledora vagarosa. Os mais dados à chacota poderiam classificar isso como retardo literário ou até mesmo deficiência lingüístico-visual. Eu sempre me apoiei no pretexto de que sou apenas uma pessoa que gosta de apreciar as palavras.


Desta forma, a minha aparente lerdeza seria apenas uma forma de melhor admirar a beleza das poesias de Drummond e Pessoa, imaginar os personagens e locais descritos por Érico Veríssimo e absorver as informações tão bem apuradas por Ruy Castro.

Lindo, né? É o que eu conseguia fazer com que os outros acreditassem, até que chegou a faculdade e a pilha de textos e livros desagradáveis não parou de aumentar, revelando o quão esfarrapada era a minha desculpa.

Eis que certo dia pela manhã, quando aguardava o metrô chegar na plataforma, uma pequena luz se acendeu no fim do túnel.

Não, a luz do fim do túnel não indicava o fim dos meus dias, só me fez olhar para o lado e reparar na moça que estava logo à minha esquerda. Ela estava concentrada, lendo o seu jornal para passar o tempo. Eu, que também posso ser classificada como leitora oportunista, peguei carona no jornalzinho dela, que descobri se chamar Fé Mundial. A matéria que consegui vislumbrar, e que - a julgar pelo jeito como o polegar dela passeava pela folha - era a que ela também lia, falava sobre graças obtidas pelos fiéis que frequentavam a empresa. Digo, igreja.

Mas isso não vem ao caso. Não quero julgar as convicções religiosas e/ou gostos alheios. Só pego carona em suas leituras. E assim prossegui lendo a reportagem, sem parar para fazer avaliações e críticas. E não é que eu terminei três parágrafos antes dela?

É por isso que eu decidi: curso de leitura dinâmica? Só se for da Universal.